Entenda como minerar Bitcoin pelo seu celular

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O interesse em “fazer BTC” não para de crescer. Mas enquanto a ideia de equipamentos potentes e alto consumo de energia permanece na cabeça da maioria, outros veem no celular um equipamento que também traz essa possibilidade. A ideia parece irresistível. Se o aparelho já fica nas mãos o dia inteiro, por que não colocá-lo para trabalhar?

É claro que as questões que envolvem a mineração, como potência, energia e retorno financeiro, permanecem. Mas com o preço do Bitcoin disparado, uma cotação que flutua perto dos R$600 mil, vale a pena analisar essa possibilidade.

A tentação e o mito da mineração móvel

Apps que prometem mineração em nuvem, ou via CPU/GPU do Android, prosperam em fóruns e lojas alternativas. Contudo, a maior parte entrega recompensas microscópicas ou simplesmente distribui tokens sem lastro. Mesmo quando o aplicativo usa algoritmos de prova de trabalho convencionais, o usuário enfrenta a própria aritmética da blockchain.

A dificuldade global do BTC subiu mais de 195% desde janeiro de 2023, empurrada por fazendas equipadas com ASICs que realizam trilhões de hashes por segundo. Um Snapdragon topo de linha, em comparação, raramente passa de algumas centenas de quilohashes.

As implicações desse abismo ficam claras quando se olha para o consumo elétrico. Um estudo citado pela CNN Brasil mostrou que, mesmo aproveitando “energia ociosa” do sistema elétrico nacional, seria preciso injetar algo como 1,8 TWh por ano para gerar R$300 milhões em BTC, potência essa que nenhum smartphone conseguiria sustentar sem sobreaquecer em minutos.

Conta de luz, calor, desgaste e garantias perdidas

A tarifa residencial brasileira, hoje, varia de R$0,70 a R$1,00 por kWh, de acordo com comparativo de distribuidoras publicado em 2024. Mesmo que um celular conseguisse operar 24 horas em máxima performance, algo improvável sem throttling térmico, ele consumiria em média 4 kWh por mês só para a tarefa.

Parece pouco, até lembrar que a quantidade de satoshis minerada nesse cenário não cobre nem 5% dessa despesa, segundo cálculos baseados na dificuldade atual e no hashrate médio de um chip móvel. Em contrapartida, se estima que minerar um BTC em território brasileiro pode custa de R$57 mil a R$66 mil apenas em eletricidade.

Valor que faz sentido apenas para operações industriais que se beneficiam de escala e contratos de energia dedicados. E além do impacto na conta, vem o calor, pois a mineração força a CPU e a GPU a rodarem em 100%, elevando a temperatura interna a patamares que aceleram a degradação da bateria.

Em testes de estresse, a temperatura do SoC sobe rapidamente acima de 85°C; nessa faixa, o gerenciamento térmico (thermal throttling) reduz a frequência de clock para proteger o silício, derrubando o hashrate e criando um ciclo vicioso. Menos hashes, mais tempo ligado, mais calor.

Lojas autorizadas costumam recusar garantia quando detectam uso prolongado em tarefas intensivas. O ruído digital não para aí, relatórios ambientais apontam que a participação do carvão no mix energético global da mineração caiu de 63% em 2011 para 9% em 2025, mas isso ocorreu graças, sobretudo, a parques solares e hidrelétricos mantidos por grandes pools, não por smartphones.

Existem alternativas mais racionais

Para quem quer acumular tokens sem comprar diretamente, vale investigar faucets, programas de cashback ou micro-tarefas. Essas atividades rendem frações pequenas, mas pelo menos não queimam hardware nem elevam a conta de luz. O fascínio de “fabricar” cripto a partir de um aparelho que já está na mão o dia inteiro, porém, sempre volta.

Há, no entanto, um descompasso entre desejo e realidade. A disparidade, reforçada pela escalada da dificuldade mundial, já torna a aventura inviável logo na largada. Dados do minerstat indicam dificuldade acima de 126 T e hashrate próximo de 919 EH/s, um recorde que se traduz em uma competição feroz pelo próximo bloco.

Benchmarks independentes mostram que os melhores Androids entregam 500 a 1.000 H/s em algoritmos amigáveis a CPU, como RandomX. Ainda assim, a remuneração líquida tende a zero quando se corrige para consumo elétrico e diluição da recompensa após o halving.

Um levantamento divulgado no Scribd, com mais de 100 modelos testados, aponta que apenas aparelhos de oito núcleos rodando a 3 GHz chegam perto de 1.000 H/s, intervalo um milhão de vezes menor que o de um ASIC de prateleira. A lacuna se aprofunda porque o último halving cortou pela metade o subsídio de cada bloco minerado, hoje em 3.125 BTC.

De acordo com análise do Galaxy Research, esse corte disparou uma corrida por eficiência energética e já expulsou milhares de rigs antigos do mercado norte-americano, um termômetro de quão agressivo é o ambiente competitivo pós-halving.

Outra estratégia é acompanhar a evolução tecnológica sem pressa. Chips de baixa potência dedicados à mineração, os chamados USB miners, começam a surgir em feiras de eletrônica, mas ainda não entregam a eficiência de um ASIC.